Quarta-feira 11/01/2012

Os circos, as touradas e a vingança do elefante Aprendi a gostar de circo desde os seis anos de idade.Era a grande diversão e a alegria do povo,...

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Os circos, as touradas e a vingança do elefante

Aprendi a gostar de circo desde os seis anos de idade.Era a grande diversão e a alegria do povo, de vez que o cinema era frequentado, mas o circo era a grande atração. Era a alegria e o encantamento da criançada, do povão e das classes abastadas também. No circo, todos se sentiam um pouco crianças em seus sentimentos, descontraindo-se um pouco, libertando seu eu.
Uma minoria sentava nos camarotes, principalmente gente de posição e de posses. O povão e a classe média geralmente sentava nas arquibancadas (puieiros), onde se sentiam mais à vontade, podendo até largar piadas.Os grandes circos que conheci foram Sarrazaní-o maior do mundo e Os Irmãos Queirolos, com seu célebre palhaço Rebola Bola, os quais somente vieram a Santo Ângelo com patrocinadores que garantiram a sua renda de bilheteria. O senhor Alfredo Paniqui garantiu o valor que eles queriam ganhar. Consta que ele ganhou muito dinheiro com a diferença dos ingressos (sobra), devido a sua lotação excessiva, quebrou a arquibancada do último degrau, e, na queda rasguei meu “marinheirinho novo”, levando na queda, um corte nas costelas.
Grande era o elenco e belas se apresentavam as artistas. Bons palhaços, trapezistas, globos da morte e feras eram apresentadas. Acampavam no centro da “Pracinha do Elite”, cujo nome certo era Praça da Liberdade, situada entre as ruas dos Andradas, Antunes Ribas, Duque de Caxias e 15 de Novembro.
Também num galpão de madeira, cercado de arame farpado, com arquibancadas ao redor, picadeiro no centro, protegido com cerca de madeira, eram apresentadas as touradas com seus toureiros e touros, com grande expectativa da assistência. Localizava-se na esquina onde é a Corsan hoje. Recordo que em dada apresentação um toureiro levou uma chifrada de um touro nas costa,quebrando-lhe costelas e tendo de ser hospitalizado. Posteriomente, os circos passaram a acampar num campinho onde hoje é a ACISA e o Teatro Antônio Sepp.
Os circos viajavam de trem, aportando na gare da Viaçao férrea até serem instalados nos referidos campinhos.Os artistas vinham em carros de primeira e paravam nos Hotéis Avenida e Comércio. Os restantes funcionários viajavam em carros de carga e paravam no próprio circo. As feras viajavam em carros abertos do trem. Enquanto não descarregavam (pois, era preciso primeiro montar as barracas destinadas a eles) permaneciam na gare da Viaçao férrea por uns três dias. Muito cedo,ainda escuro, aparecia primeiro a estrela Dalva a Noroeste, secudada pelo canto do bem-te-vi e de outras aves, ao amanhecer, após um minuto, ouvia-se o rugir das feras- leões, tigres, hienas, elefantes, etc, vindos do quadro da Viação Férrea.
Eram os circos Irmãos Robatini,Cinco Irmãos e outros que não me lembro o nome. Apresentavam, como os anteriores, o Globo da Morte com dois motociclos e uma bicicleta. Emocionavam com números de trapézio com saltos tríplices, com e sem rede. Engraçados palhaços para alegrar a plateia. Feras, cavalos e cachorros eram apresentados. Os antigos chamavam-nos de “Circo de Borlantins”,ou cavalinhos. Até que um circo conservou seu elefante acorrentado numa garagem do Hotel Avenida, cuidado por dois tratadores.Ambos cuidadores do animal, uma noite beberam demais, e um deles resolveu bater de martelo, ou marreta, na cabeça do elefante.
Este, enfurecido, rugindo, bateu com a tromba no braço do “peludo”, quebrando-o. Arrancou a corrente com a estaca, derrubando a garagem (que era só coberta). Depois, saindo no pátio, derrubou o muro do Hotel com sua tromba, seguindo pela Avenida Brasil até a esquina do Bradesco, seguindo pela Antunes Ribas (rugindo e balançando a tromba). Avisaram o domador, que veio com o caminhão, que parou com a trazeira na frente dele, na altura do Cartório do Fabrício. Como ele gostasse de empurrar o caminhão, passou a empurrá-lo,acalmando-se e voltando até a garagem, onde foi novamente acorrentado pelo domador.
Foi um alvoroço na cidade, com a gurizada e populares acompanhando aquela fera pelas ruas da cidade, urrando e abanando com a tromba.O elefante tinha realizado a sua vingança, confirmando o ditado antigo de que é o animal(ou fera) mais vingativo e roncoroso da floresta, não esquecendo nunca o que lhe fazem.

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