A Campanha da Legalidade- Parte Final
Durante o dia 31 de março houve nos quartéis de Santo Ângelo os seguintes confrontos dentro dos mesmos entre as facções que queriam a permanência do Sr. João Goulart no governo e as que queriam a sua substituição, apoiando a Revolução. Com exceção dos oficiais dos Q A O que eram contra a revolução, e da maioria dos sargentos que eram contra a revolução a quase totalidade dos oficiais eram a favor e apoiavam a revolução.
Os sargentos armaram os cabos que estavam com as metralhadoras nos armários, prontos para receberem as munições e reverterem a situação. Os cabos, porém, se reuniram e encarregaram o cabo mais antigo e mais velho para falar com o sargento em quem ele mais confiasse e perguntar se eles teriam chance de virar a situação.
Esse sargento, que não sabia que os cabos estavam armados pelos sargentos, lhe disse: “Não!”
Pois a segunda Divisão de Cavalaria, também, apoiava a primeira Divisão de Cavalaria, aderindo à Revolução. Outra que os porta-aviões americanos já estavam próximos da costa brasileira para apoiar a Revolução.
Aí esse cabo mais antigo repassou a informação aos seus companheiros que resolveram entregar as armas. No outro dia às 8h30min, o capitão S2 do regimento chamou o dito sargento de confiança do cabo líder e perguntou: Fulano, se tivesse estourado uma luta dentro do quartel, você teria coragem de atirar em mim e pensa que eu teria coragem de atirar em você? Ao que o sargento respondeu: Capitão, pensando friamente, nenhum de nós atiraria um no outro porque somos amigos.
Então o capitão apertando a mão do sargento lhe disse: Fulano muito obrigado. Eu tinha certeza que essa seria sua resposta, pois tenho confiança em você. Mais tarde o comandante do R.R.EC- MEC complicou com ele, querendo saber o que ele queria dizer nas entrelinhas de suas poesias. Pois esse sargento não participou daquela situação, jamais negou que não era partidário da queda do governo do Sr. João Goulart…Muitos civis e militares foram presos, como o Dr. Guido Emell, Alan Fonseca e muitos sindicalistas, comunistas e líderes militares, como Vilmar Desengrini e José Dalsaço, todos sargentos. Alguns militares foram transferidos para outras unidades do exército.
Isso que estou escrevendo me foi relatado na íntegra por aquele sargento que é meu amigo íntimo, hoje major reformado e poeta santo-angelense, a cujo bom senso devemos não ter havido confronto e derrame de sangue nos quartéis de Santo Ângelo.
No dia 1° de abril de 1964, Santo Ângelo amanheceu com tropas nas ruas, ocupando todos os pontos estratégicos da cidade. Os líderes comunistas, comando de greves como já disse, chefes de grupos de 11 de Santo Ângelo e de todo o Estado foram presos. O Coronel Madeira foi levado preso para Porto Alegre e caçado na primeira lista.
Adendo- O sargento a que nos referimos é hoje o Major e poeta Olgi Zauza Krejci. Para encerrar esta coluna, devemos dizer que por conclusão, desde nossa juventude, achamos que, mesmo com todos os defeitos, o regime democrático é o único que nos serve. E não poderia ser diferente, pois em nossa juventude pertencemos ao Partido Libertador, que sempre lutou contra as ditaduras. É uma conclusão de 82 anos de vida. (Fim da série “A Campanha da Legalidade”).