Fins de tarde em Santo Ângelo
Os fins de tarde, quase pôr do sol, eram alegremente comemorados por estudantes, bancários, comerciários e comerciantes, moças e moços da sociedade. que após encerrarem o expediente quotidiano, faziam um “footing” até a rodoviária e a gare da Estação da Viação Férrea para esperar o trem de passageiros para verem quem chegava pelos ônibus e principalmente pelo trem de passageiros- o “P”- que surgia geralmente no horário, garbosamente apitando e badalando a sineta, na curva, entre a Cia de Cigarros Souza Cruz e o Frigorifico, parando ante a plataforma. Era um movimento muito grande, entre curiosos e passeadores aqueles que vinham esperar amigos e parentes e assistir ao embarque e desembarque dos que seguiam viagem para o Comadaí, Giruá e Santa Rosa. Era o ponto chique da cidade. Acrescido do movimento dos propagandistas dos hotéis: Avenida, Moderno Hotel, Hotel Vitória (antigo Hotel Hamburgo), Hotel Brasil, Hotel Kreuz, Hotel dos Viajantes e Mensageiros. Os táxis e gaiotas de carga aguardavam no pátio da Viação Férrea.
Footings- Os footings ocorreram dos anos de 1939 à 1950. Aos sábados à tardinha e à noite, bem como aos domingos de manhã e à noite, antes durante e depois das sessões de cinema eram realizados os footings na quadra da Avenida Brasil entre as esquinas da Marechal Floriano e Marquês do Herval até a metade da quadra frente ao Cinema Cisne. As moças e rapazes desfilavam em ida e volta, procurando namoros, flertes e encontros. Frenquentavam o Café Avenida ao lado do cinema e ao ar livre, num pátio com mesas, onde serviam o melhor sorvete da cidade (de vez que foi o velho Frey que trouxe o sorvete e o picolé para Santo Ângelo). Outros preferiam o Café do Maerkli, onde tinha música ao vivo, ministrada pelo maestro Walter ao piano até as 22h. As vezes tinha baile na parte dos fundos do salão do café. No pátio havia uma pista de danças, no meio rodeada de mesas e árvores de sombra. Música ao vivo, às vezes Carnaval fora e dentro do salão, sempre animado pelo velho Maerkli. Os rapazes, moças e casais alternavam em frequentar um lugar e outro. Serviam também salada de frutas, café puro ou com leite. Cerveja e chopp era tradicional. Aperitivos de cunhaque, cachaça e vermute. O whisky apareceu mais tarde. Inicialmente era a bebida dos ricos. Esse footing que vinha da gare da Viação Férrea, passava pela antiga Estação Rodoviária á Avenida Brasil, mais tarde na Avenida Venâncio Aires, se prolongando até o Banco da Provincia, hoje Pompéia.
Os frequnetadores do Café Danubio e Azul, mais tarde Café Central, onde hoje é o Banco do Brasil, era um ambiente aconchegante, que também possuia um salão de bilhar, onde os moços e homens em geral passavam horas jogando, inclusive estudantes. A cerveja, ás vezes acompanhava o jogo. Após o jogo, continuavam a diversão, indo para os locais onde eram servidos aperitivos e cervejas, como no Restaurante do Titio, Tagreli, Café do Cisne, Gruta Baiana, Minuano do Romeo, Museo do Papudo, Galo Prata, Continental, Clube 28 de Maio (do Naná). Cada um de acordo com seu ambiente, onde se sentiam bem e descontraídos.
Os colonos, gaúchos e tropeiros frequentavam a Churrascaria Brasil e Bola Branca- o primeiro na Marechal Floriano e o segundo na XV de Novembro. Mais tarde apareceu o Cafezinho de Cisne (do Pulcinelli) onde os homens de negócios, viajantes, comerciantes, bancários e moradores em geral se reuniam após o almoço, nos domingos de manhã, fins de tarde, para saberem das novidades e fofocas da cidade. Tomavam cafezinho, aperitivos, cervejas, comiam pastéis e lanches. Sem falar nos bailes e reuniões dançantes, além das matinés, que havia quase sempre nos finais de semana nos Clubes 28 de Maio e no Clube Comercial. No Clube Gaúcho, eram mais distantes. Faziam-se visitas entre as famílias amigas e parentes, com retribuição. Cultivavam-se novas amizades. Santo Ângelo era uma cidade calma, feliz e tranquila.