Os Circos
Aprendi a gostar de circo desde os seis anos de idade… Era a grande diversão e a alegria do povo, de vez que o cinema era freqüentado, mas o circo era a grande atração… Era a alegria e o encantamento da criançada, do povão e das classes abastadas, também. No circo todos se sentiam um pouco crianças em seus sentimentos, discontraindo-se um pouco, libertando seu Eu.
Uma minoria sentava nos camarotes, principalmente gente de posição e de posses. O povão e a classe média geralmente sentavam nas arquibancadas (puleiro), onde se sentiam mais a vontade, podendo até largar piadas. Os grandes circos que conheci foram Sarrazani o maior do mundo e os Irmãos Queirolos, com seu cérebre palhaço Rebola Bola, os quais somente vieram a Santo Ângelo com patrocinadores que garantiram sua renda de bilheteria … O senhor Alfredo Paniqui garantiu o valor que eles queriam ganhar. Consta que ele ganhou muito dinheiro com a diferença dos ingressos (sobra). Ali, devido à lotação excessiva, quebrou uma arquibancada do último degrau, e, na queda rasguei meu “mainheirinho novo”, levando na queda um corte nas costelas.
Grande era o elenco e belas se apresentavam as artistas. Bons palhaços, trapezistas, globos da morte e feras eram apresentados. Acampavam no centro da Pracinha do Elite, cujo nome certo era Praça da Liberdade, situada entre as ruas dos Andradas, Antunes Ribas, Duque de Caxias e 15 de Novembro. Também, num galpão de madeira, cercado de arame farpado, com arquibancadas ao redor, picadeiro no centro, protegido com cerca de madeira, eram apresentadas as touradas com seus toureiros e touros, com grande expectativa da assistência.
Localizava-se na esquina onde a corsan hoje. Recordo que em dada apresentação um toureiro levou uma chifrada de um touro nas costas, quebrando-lhe costelas, e, tendo de ser hospitalizado. Posteriormente, os circos passaram a acampar num campinho onde hoje é a ACISA e o Teatro Antonio Sepp.
Aos circos viajavam de trem, aportando na gare da viação férrea até serem instalados nos referidos campinhos. Os artistas vinham em carros de primeira e paravam nos Hotéis Avenida e do Comércio. Os restantes dos funcionários viajavam em carros de carga e paravam no próprio circo.
As feras viajavam em carros abertos do trem. Enquanto não descarregavam ( pois, era preciso primeiro montar as barracas destinadas a eles) permaneciam na gare da Gare da Viação Férrea por uns três dias. Muito cedo, ainda escuro, de madrugada, aparecia primeiro a Estrela Dalva à Noroeste, secundada pelo canto do bentevi e de outras aves, ao amanhecer, após um minuto, ouvia – o rugir das feras – leões, tigres, hienas, elefantes, etc.. Vindos do quadro da Viação Férrea.
Eram os circos Irmãos Robatini, Cinco Irmãos e outros que não me lembro o nome. Apresentava como os anteriores, o Globo da Morte com dois motociclos e uma bicicleta. Emocionavam com números de trapézio com saltos tríplices com e sem rede. Engraçados palhaços para alegrar a platéia. Feras, cavalos e cachorros eram apresentados. (Os antigos chamavam-nos de “Circo de Borlantins”, ou, cavalinhos Até que um circo conservou seu elefante acorrentado numa garagem do Hotel Avenida, cuidado por dois tratadores. Ambos cuidadores de animal, uma noite beberam demais, e um deles resolveu bater de martelo, ou marreta na cabeça do elefante. Este, enfurecido, rugindo, bateu com a tromba no braço do “ peludo”, quebrando-o. Arrancou a corrente com a estaca, derrubando a garagem ( que era só coberta). Depois, saindo no pátio, derrubou o muro do Hotel com sua tromba, seguindo pela Av. Brasil até a esquina do Bradesco, seguindo pela Antunes Ribas (rugindo e balançando a tromba). Avisaram o domador, que veio com o caminhão que parou com a trazeira na frente dele, na altura do Cartório Fabrício. Como ele gostasse de empurrar o caminhão, passou a empurrá-lo, acalmando – se e voltando até a garagem, onde foi novamente acorrentado pelo domador. Foi um alvoroço na cidade, com a gurizada e populares acompanhando aquela fera pelas ruas da cidade, urrando e abanando com a tromba. O elefante tinha realizado a sua vingança, confirmando o ditado antigo de que é o animal (ou fera) mais vingativo e rancoroso da floresta, não esquecendo nunca o que lhe fazem….