Domingão
Eu o conheci quando eu era guri. Era o entregador de gelo, dos Frey, no Jardim das Palmeiras e, depois, na fábrica do Sr. Orthnam, na esquina da Marquês do Herval com a Travessa Mauá. A fábrica dos Frey terminou em uma explosão.
Entregando gelo com um carroção puxado a cavalos, pegava meia barra de gelo com a “mãozona” para ir até a casa do cliente. Isso era desde 1930. Sempre alegre e sorridente. Meu pai dizia que ele era o melhor homem de Santo Ângelo, porque foi criado pelo Sr. Venceslau Pereira que, segundo ele (meu pai), era o homem mais correto da cidade. Venceslau, de forte atuação comercial e política da oposição, não conseguindo cumprir seus compromissos, suicidou-se, atirando-se num poço, deixando os chinelos na beirada.
Domingão, nascido em São Luiz Gonzaga, foi lutador de box, sendo considerado “O Tigre da Serra”, em Santa Maria, e o Campeão Estadual. Num circo de cavalinhos ou de borlantins, como chamavam, que acampou ali, onde hoje é a Acisa e a Casa de Cultura, havia um Hércules de nacionalidade húngara – entortador de ferraduras e de pregos grandes, levantava um cavalo pelas patas. Fazia um caminhão passar com a roda sobre seu corpo, musculatura nos braços espetaculares.
Desafiou alguém da cidade para lutar com ele. Havia um prêmio, e Domingão se apresentou. Assisti à luta. O Hércules não acertou nem um soco no desafiado. Domingão, correndo em volta e agitando (movimentando) mãos e braços, conseguiu acertar e tombar duas vezes o Hércules, vencendo a luta por pontos, após o 4º Round. Domingão e outros lutadores também lutavam no Cinema Apollo, no Cinema Municipal e no Clube 28 de Maio.
Porém, no circo, foi a única vez que o vi lutar. Domingão também trabalhava de pedreiro. Pessoa muito alegre, educada e amável, conseguindo o respeito e consideração de toda a cidade. Seu filho, Adão Fortes, “Motorista Padrão”, herdou do pai a consideração e respeito de toda a comunidade. Domingão morou e criou seus filhos na esquina da Antunes Ribas com a Barão de Santo Ângelo, num grande casarão. Adão tem um lugar consagrado por todos os cidadãos desta cidade. É um amigo sempre disposto a servir.
Domingão x Frango
Conheci o Domingão entregando gelo inclusive na casa dos primos. Negrão bondoso e forte nascido em São Luiz, filho de Wenceslau Pereira, que desejava um dia morar numa capital e foi o que aconteceu – mudou-se ainda meio novo para Santo Ângelo, que já se chamava Capital das Missões. As barras de gelo não eram leves e isto fez com que este grande operário desenvolvesse musculatura invejável que mais tarde o transformou num excelente lutador de Box. Andava sempre meio correndo por toda cidade porque a clientela era grande e com isto a musculatura das pernas desenvolveram, colocando-o em condições para atingir este objetivo.
Vejam o que aconteceu (pitoresco) : Um cabo da Brigada Militar de São Luiz com dois metros de altura, magro como pescoço de girafa, todavia muito bom jogador de vôlei, resolveu lutar Box. Mesmo não sendo do ramo, desafiou exatamente o Domingão. Aconteceram os preparativos com muita publicidade no jornal local A NOTÍCIA, no rádio, no boca a boca nos colégios, repartições e comércio e o dia chegou. Montaram o ringue no melhor cinema da cidade, CINE LUX, que lotou completamente. O juiz foi um militar. Começou a peleia e veio um rápido aquecimento e, PASMEM, na primeira bofetada o Domingão acertou uma direta no Frango que se estatelou no chão e rapidamente virou pinto.
Não levantou mais e deve estar tonto até hoje. A luta não durou mais do que 40 segundos. Depois o povo queria o dinheiro dos ingressos de volta, mas por sorte estava presente o Delegado, Prefeito e muitos brigadianos que acalmaram os ânimos. Nesta briga de penosos, o Jacu levou de barbada e, mais uma vez, parabéns a ele!