14 anos sem o poeta maior, Renato Russo

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“Quando não há compaixão, ou mesmo um gesto de ajuda. O que pensar da vida e daqueles que sabemos que amamos? Quem pensa por si mesmo é livre, e ser livre é coisa muito séria! Não se pode fechar os olhos, não se pode olhar pra trás, sem se aprender alguma coisa pro futuro. Corri pro esconderijo, olhei pela janela, o sol é um só, mas quem sabe são duas manhãs. Não precisa vir se não for pra ficar pelo menos uma noite e três semanas. Nada é fácil, nada é certo, não façamos do amor, algo desonesto. Quero ser prudente e sempre ser correto, quero ser constante e sempre tentar ser sincero. E queremos fugir, mas ficamos sempre sem saber…” Assim, lendo, parece simples, fácil de entender, não muito difícil de cantar, embora o dom para a música fizesse com que Renato Manfredini Júnior, este carioca de voz única na música popular brasileira, se tornasse o poeta maior. Sem exagero nenhum, ele, de nome artístico, Renato Russo, foi o maior poeta da música brasileira. Que nos perdoem Lupicínio Rodrigues, Adoniran Barbosa, Cazuza, Chico Buarque, Mílton Nascimento, Caetano Veloso, Jorge Ben, Gonzaguinha, Roberto Carlos… mas Renato Russo era o único capaz de compor poesias em músicas agradáveis aos nossos ouvidos, em canções eternas feitas para todas as gerações. Até os seis anos de idade, Renato sempre viveu no Rio de Janeiro junto com sua família. Começou a estudar cedo no Colégio Olavo Bilac, na Ilha do Governador. Nessa época teria escrito uma bela redação chamada “Casa velha, em ruínas…”, que inclusive está disponível na íntegra. Em 1967, mudou-se com sua família para Nova Iorque pois seu pai, funcionário do Banco do Brasil, fora transferido para agência do banco em Nova York, mais especificamente para Forest Hills, no distrito do Queens, onde foi introduzido à língua e cultura norte-americanas. Aos nove anos, em 1969, Renato e sua família voltam para o Brasil, indo morar na casa de seu tio Sávio numa casa na Ilha do Governador, Rio de Janeiro. Em 1973, a família trocou o Rio de Janeiro por Brasília/DF, passando a morar na Asa Sul. Em 1975, aos quinze anos, Renato começou a atravessar uma das fases mais difíceis e curiosas de sua vida quando fora diagnosticado como portador da epifisiólise, uma doença óssea. Ao saber do resultado, os médicos submeteram-no a uma cirurgia para implantação de três pinos de platina na bacia. Renato sofreu duramente a enfermidade, tendo que ficar seis meses na cama, quase sem movimentos. Durante o período de tratamento Renato teria se dedicado quase que integralmente a ouvir música, iniciando sua extensa coleção de discos dos mais variados estilos. Em entrevista, Renato teria alegado que este período fora determinante na formação de sua musicalidade. À frente da Legião Urbana, Renato Russo atingiu o auge de sua carreira como músico, sendo reconhecido como um dos maiores poetas do rock brasileiro, criando uma relação com os fãs que chegava a ser messiânica (alguns adoravam o cantor como se fosse um deus). Os mesmos fãs chegavam a fazer um trocadilho com o nome da banda: Religião Urbana/Legião Urbana. Renato Russo morreu em 11 de outubro de 1996, pesando apenas 45 quilos, em consequência de complicações causadas pela Aids (era soropositivo desde 1989), mas jamais revelou publicamente sua doença. Quando morreu deixou um filho, Giuliano Manfredini, com apenas 7 anos de idade. O corpo de Renato foi cremado e suas cinzas lançadas sobre o jardim do sítio de Roberto Burle Marx. “Não esconda tristeza de mim, todos se afastam quando o mundo está errado, quando o que temos é um catálogo de erros, quando precisamos de carinho, força e cuidado. Este é o livro das flores, este é o livro do destino, este é o livro de nossos dias, este é o dia de nossos amores”.

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