O português nosso de cada dia
Vale a pena ler o romance O Cabeleira, de Franklin Távora, de cujo livro extraio estes dois períodos: “O sol chegou ao poente. Veio o lusco-fusco.” Sol, por ser o nome próprio da estrela em torno da qual gira a Terra, deveria e deve ser escrito com inicial maiúscula: Sol. Lusco-fusco, no segundo período, escrevia-se e continua sendo escrito com hífen na nova ortografia. Em caso de plural, apenas fusco recebe o “s” de plural: lusco-fuscos. Lusco-fusco significa, no sentido real, a hora do crepúsculo vespertino, a hora do entardecer. E no sentido figurado significa indivíduo mulato, pardo. O sentido figurado de lusco-fusco é mais usado no Rio de Janeiro do que noutros estados do Brasil. Lusco-fusco tem este sinônimo: lusque-fusque. O plural de lusque-fusque é lusque-fusques.
Existe a expressão barba-de-bode com hífen e a expressão barba de bode sem hífen? Existem as duas expressões. Barba-de-bode com hífen existia em muitos campos gaúchos antes da agricultura mecanizada. E ainda existe aonde esse tipo de agricultura não chegou. Barba-de-bode com hífen era e é uma espécie de planta que, quando nova, servia e serve de pasto para o gado. O plural de barba-de-bode é barbas-de-bode. E que significa barba de bode sem hífen? Barba de bode sem hífen significa o indivíduo que usa barba longa. De quando em vez, observa-se nas ruas, também nas de Santo Ângelo, um ou outro homem barba de bode. O plural de barba de bode é barbas de bode.
A roupa de uso diário, ou a roupa única, ou a roupa pela qual se tem especial predileção, ou até um objeto de uso constante, no Brasil se chama de bate-enxuga e também bate não quara. A expressão bate-enxuga era e continua sendo escrita com hífen. A expressão bate-não-quara era escrita assim mesmo: com hífen. Agora, na nova ortografia, perdeu o hífen e deve ser escrita deste jeito: bate não quara. Os dicionários e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa não registram o plural de bate-enxuga nem de bate não quara.