A rica história de um pracinha da II Guerra Mundial

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Pracinha é um termo referente aos soldados veteranos do Exército Brasileiro que foram enviados para integrar as forças armadas aliadas contra o nazi-fascismo na II Guerra Mundial (1939-1945). Os pracinhas, membros da Força Expedicionária Brasileira, lutaram na Itália e serviram no Rio de Janeiro e nas fronteiras brasileiras. Estes eram os soldados que estavam em linha de frente das batalhas. Passados mais de 60 anos, o ex-pracinha Antônio Gomes dos Santos, 92 anos, natural de Cruz Alta/RS, reside há 20 anos na Capital das Missões. Filho do pecuarista Salvador Martins dos Campos, “Seu Antônio” integrou o 6° Regimento de Artilharia Montada de Cruz Alta/RS, vindo a ser enviado para o Rio de Janeiro/RJ, no ano de 1940, após ser convocado para a II Guerra Mundial. Primeiramente, Antônio Gomes guarneceu a costa do Estado do Rio Grande do Sul e, mais tarde, foi enviado à Capital fluminense. “Fiquei quatro anos em Santo Ângelo e um ano na capital do Estado do Rio de Janeiro. Desenvoli funções na reserva, após fui servidor público municipal e vereador em Cruz Alta, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)”, disse. Segundo os historiadores, o envio dos “pracinhas” foi muito contraditório, pois Getúlio Vargas, então presidente, conduzia seu governo de uma maneira similar ao sistema autoritário dos fascistas.Um dos motivos pelos quais Getúlio Vargas enviou os soldados brasileiros à Europa foi o apoio e incentivo econômico do governo dos Estados Unidos, concretizados pelos Acordos de Washington, notável pelo empréstimo para a criação da Companhia Siderúrgica Nacional e da Companhia Vale do Rio Doce. Anos mais tarde, “Seu Antônio” integrou o Grupo dos Onze durante o período ditatorial no país (1964-1985). O grupo dos onze consistia na organização de “grupos de onze companheiros” (como em um time de futebol) ou “comandos nacionalistas” liderados por Leonel Brizola, em fins de novembro de 1963. Em outubro de 1963, Leonel de Moura Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, considerava que o Brasil estava vivendo momentos decisivos e que, rapidamente, se aproximava o desfecho que poderia colocar o país numa nova linha política. Sucessivamente, em 19 e 25 de outubro, Brizola fez inflamados pronunciamentos à nação, através dos microfones de uma cadeia de estações de rádio liderada pela Mairink Veiga, que detinha, na época, o maior percentual de ouvintes das classes média e baixa. Nesses pronunciamentos, conclamou o povo a organizar-se em grupos que, unidos, iriam formar o “Exército Popular de Libertação” (EPL). Comparou esses grupos com equipes de futebol e os 11 “jogadores” seriam os “tijolos” para “construir o nosso edifício”. Estavam lançados os “Grupos dos Onze” (G-11) que, para Brizola, constituir-se-iam nos núcleos de seu futuro exército, o EPL. Os G-11 seriam a “vanguarda avançada do Movimento Revolucionário”, a exemplo da “Guarda Vermelha da Revolução Socialista de 1917 na União Soviética”. Os integrantes dos G-11 deveriam considerar-se em “Revolução Permanente e Ostensiva” e seus ensinamentos deveriam ser colhidos nas “Revoluções Populares”, nas “Frentes de Libertação Nacional” e no “folheto cubano” sobre a técnica de guerrilha. No início de 1964, Brizola lançou seu próprio semanário, “O Panfleto”, que veio se integrar à campanha agitativa já desenvolvida pela cadeia da Rádio Mairink Veiga. Em outras ocasiões, distribuiu diversos outros documentos para a organização dos G-11, tais como as “Precauções”, os “Deveres dos Membros”, os “Deveres dos Dirigentes”, um “Código de Segurança” e fichas de inscrição para seus integrantes. Chegou a organizar 5.304 grupos, num total de 58.344 pessoas, distribuídas, particularmente, pelos Estados do Rio Grande do Sul, Guanabara, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Um dos episódios marcantes na vida de Antônio Gomes foi a ida até o município de São Borja/RS, no início dos anos 1950, na fazenda do então presidente Getúlio Dornelles Vargas. “Formamos uma comissão e fomos até a fazenda do Getúlio Vargas. Sentados em um sepo, embaixo de uma imensa árvore, sem o auxílio de capangas, ele nos recebeu humildemente. Uma pessoa fantástica! Durante o Grupo dos Onze ficamos detido em Porto Alegre/RS, fui preso, me tomaram os documentos, perdi emprego e levei muita surra”, conta. Hoje, Antônio Gomes dos Santos vive há 20 anos na Capital das Missões. Após ter ficado viúvo, casou novamente e há 21 anos vive junto com a companheira, a ruralista Erci de Souza Medeiros, natural de Garruchos/RS, no bairro Centro-Sul de Santo Ângelo. Do primeiro casamento, Antônio teve os filhos Leônidas e Márcia. “Eu tive muita decepção na vida militar, os soldados que vieram da II Guerra Mundial terminaram a vida como mendigos, bebendo pelas praças e ninguém nos valorizou. Os soldados foram tratados pelo país que nem cachorros de rua pulguentos”, cita. Assim, vive este cidadão de 92 anos, com fantástica memória, um admirável senso de humor e com muita riqueza de saúde. Ao lado da esposa Erci, demonstra amor e união em família. “O segredo para viver muito e com saúde é acordar cedo, tomar muita água, amar muito, usar mel, açúcar mascavo, leite de soja, soja e carnes brancas. Tem que ser metódico, tendo hora para as refeições, hora para o banho, para ir dormir e para acordar”, explica. Para “Seu Antônio”, a vida tem que ser levada à sério, com muito amor com a sua esposa (o) e com os demais familiares. “A minha esposa é um anjo em minha vida. É uma mãe. Na verdade todo mundo tem duas mãezonas quando nasce e quando casa. Além disso temos que cuidar da saúde. Sem saúde não adianta viver muitos anos e não poder aproveitar a vida e o amor”.

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