Rotina de trabalhadores rurais revela exposição a agrotóxicos

Pesquisadora da UFSS conclui que o tempo de exposição dos agricultores a agrotóxicos pode ultrapassar a 10 anos na região

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defensivo 02 (Copy)Pesquisa feita com 113 trabalhadores rurais do município de Cerro Largo apontou que 87% deles estão há mais de 10 anos expostos a agrotóxicos, sendo que 81% em contato com defensivos medianamente tóxicos e extremamente tóxicos, respectivamente. (classe toxicológica I e III). São agricultores do sexo masculino, de idade entre 51 a 76 anos, com baixo nível de escolaridade e trabalhadores de pequenas propriedades rurais.
O estudo foi realizado pela mestranda em Desenvolvimento e Políticas Públicas da UFFS – Campus Cerro Largo, Letiane Peccin Ristow, orientada pela professora Iara Denise Endruweit Battisti, e analisou a exposição ocupacional por agrotóxicos como subsídio para execução de políticas públicas. As entrevistas foram feitas entre os meses de dezembro de 2016 a março de 2017, e as questões abordaram dados sociodemográficos, práticas de trabalho relacionadas ao uso de agrotóxicos, sintomas de doenças e associação a agrotóxicos e treinamento para uso seguro de agrotóxicos.
Segundo a pesquisa, as atividades laborais dos trabalhadores rurais realizadas em acordo com as medidas de uso seguro foram aquisição de agrotóxicos e destino final das embalagens vazias, que estão ligadas à existência de fiscalização. Em contraponto, transporte, armazenamento, preparo e aplicação dos agrotóxicos e lavagem das roupas contaminadas não são realizadas de forma segura pela maioria dos trabalhadores rurais. A não utilização de EPIs foi informada por 69% dos trabalhadores rurais.
A maioria dos trabalhadores rurais afirma ter recebido treinamento para uso de agrotóxicos, que é realizado principalmente pelas empresas comercializadoras, cooperativas agrícolas, por meio de palestras, cursos ministrados por agrônomo ou técnico agrícola ou dias de campo. Apesar disso, a metade dos trabalhadores rurais afirma ter dúvidas quanto ao uso seguro de agrotóxicos, evidenciando o desconhecimento sobre riscos à saúde em razão da exposição ocupacional. Referente a sintomas de intoxicação por agrotóxicos, 37 (33%) trabalhadores rurais ou familiares tiveram problemas de saúde como náusea, tontura, dores de cabeça e câncer, que julgaram ser decorrente da exposição a agrotóxicos.
Entretanto, conforme afirma Letiane, “a falta de cuidados na manipulação dos agrotóxicos não deve ser vista como uma negligência dos trabalhadores rurais, mas, sim, como resultado do modelo de produção agrícola hegemônico no país que preconiza o uso de agroquímicos, da falta de políticas públicas para promoção do uso seguro de agrotóxicos, da carência de treinamentos oferecidos por órgãos públicos e da inadequação das medidas de uso seguro nas atividades laborais dos trabalhadores rurais cerro-larguenses”.

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