E a ética?
Até que ponto uma tragédia que culmina em falecimento se torna uma notícia com respaldo social? O que realmente importa para sair nos jornais, nos canais televisivos ou nas emissoras de rádio sobre o falecimento de uma pessoa? Que tipo de pauta é esta que não vai mudar a sua vida ou a minha, mas que chocou uma família e a tragédia dos outros não é, e não deveria ser, motivo para vender notícia. Até que ponto as páginas policiais, noticiando crimes bárbaros, mortes, tragédias se tornaram as mais lidas pela sociedade. Falta do que fazer ou falta de cultura?
Alguém, obcecado por dar este tipo de informação ou por aguardar uma notícia deste gênero já se colocou no papel de sujeito para saber como reagiria ao ler uma notícia sobre o filho, o pai, a filha ou a mãe que perdeu? Teria a mesma “emoção”?
Não me venham os sensacionalistas, os conservadores, os oportunistas me afirmar que “isto vende, e o povo quer ver isso”… Se o “Pão e Circo” existe, também existe a oportunidade de comprar ou não o bilhete que dá acesso a este “espetáculo”. Só quem já perdeu alguém sabe que isso não é motivo para “ser notícia”. Pois a dor de alguém não é motivo para ser notícia para as pessoas lerem, comentarem e darem as suas versões e opiniões sobre o caso. O país está cheio de “Donas Xepas” e achologistas por isso, porque perderam tempo lendo estas “notícias”, produzidas por pessoas “sem alma e sem coração”, afinal jornalismo não é serviço público e nem espetáculo, é uma formação educacional e cultural, mas que em muitos casos este poder cai em mãos erradas, em pessoas sem sentimento, tem apenas interesse. Não respeitam a dor, só querem ver os seus nomes estampados para depois dizer “a matéria é minha”. O que me chocou esta semana foi ouvir de um repórter a pergunta mais infeliz da história da humanidade. Imagine uma mãe, sentida e sofrendo com a morte de um filho, e o jornalista pergunta: “Qual o sentimento que a senhora está sentindo agora?”. O quê? Eu ouvi direito? Eu ainda não consigo acreditar que as pessoas não têm mais coração e são como baratas que só querem noticiar o trágico, como se isso fosse motivo de medalhas… Pérolas aos porcos… O mundo é maior que o umbigo.