A LEGALIDADE E A REVOLUÇÃO DE 31 DE MARÇO DE 1964
Tudo começou com a renúncia do Sr. Jânio Quadros da Presidência da República, seis meses depois de empossado, e cujo motivo até hoje ninguém sabe realmente. O Sr. Jânio Quadros obteve uma estrondosa vitória nas urnas para a Presidência da República costurou uma série de alianças com dois candidatos a vice presidente da Republica- o honrado Milton Campos e o eloquente Fernando Ferrari. Também estimulou o movimento Jan (Jânio e Jango), culminando com a vitória do Sr. João Goulart para a Vice presidência, devido, principalmente, à divisão de forças entre os outros dois candidatos. Não conseguiu a maioria no Congresso, ficando amarrado por este para qualquer resolução ser aprovada.
No começo faz uma varredura em todos os setores da administração pública. Tomou medidas em favor do pequeno produtor, abrindo as portas do Banco do Brasil para estes e para a pequena indústria. Foi uma revolução nesse setor. Adotou um regime de austeridade, obtendo o apoio e a confiança da população toda, por suas medidas e procedimento. Na política internacional, colocou o Brasil no grupo do terceiro mundo (terceira força), apoiando a índia de Nerhú, o Egito de Nasser, a Yogoslávia de Tito e Cuba de Fidel Castro, colocando o país numa posição antiamericanista, fazendo um acerto de contas com os Estados Unidos, fazendo esta nação nos respeitar, exigindo dela tudo o que tínhamos direito. Condecorou Che Guevara com a máxima insígnia nacional, desgostando com esse gesto tanto os militares como os Estados Unidos. Procurou aproximação com a União Soviética e a China, tornando seu Governo extremamente nacionalista. Houve pronunciamentos militares contra essa condecoração de Che Guevara.
Quando obteve grande apoio popular e parecia que o Brasil estava finalmente deslanchando no caminho certo, repentinamente renunciou à Presidência da República, num gesto incompreensível, que até hoje ninguém sabe e compreende. Viajou de avião para o Rio Grande do Sul para se juntar com o Governador Leonel Brizola. Os militares agiam rápido, interceptando sua viagem, fazendo o avião retornar, fazendo-o confirmar num navio da marinha brasileira, mandando-o para o exterior. Empossaram o Sr. Ranieri Mazzilli provisoriamente na Presidência da Republica. Ele era presidente da Câmara. Legalmente o Sr. João Goulart deveria assumir a Presidência da Republica.Os militares das três armas, em sua maioria, não quiseram empossá-lo. Temiam pela sua posição antiamericanista, nacionalista, esquerdista e a favor da instalação de uma republica sindicalista, pregada, pelo seu cunhado Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, que ele fosse levar o país para a extrema esquerda, apoiado pelos comunistas, e talvez para o caos.
O General Assis Brasil, comandante do Terceiro Exército, tomou posição a favor da posse do Sr. João Goulart na Presidência da Republica, formando com o Sr. Leonel Brizola a frente da Legalidade exigindo a assunção de João Goulart na chefia do governo. Criou os grupos dos 11 em quase todo o estado de apoio à sua posse e, talvez, à formação futura de uma republica sindicalista.Obtiveram (Brizola) o consenso de todos os partidos políticos e apoio de quase toda a população do Estado à posse do Sr.Goulart na Presidência da República. Criou-se uma situação de guerra civil, notadamente aqui em Santo Ângelo. Embarcam tropas aqui na viação férrea, requisitou carros civis para embarque, aéreo clube se solidarizando e deixando aviões à disposição do mvimento, comércio, industria e os Bancos fecharam por três dias, começando a faltar viveres e dinheiro na cidade- iniciando uma correria atrás de recursos. Comício político na praça Pinheiro Machado, com pronunciamento de todos os líderes dos partidos políticos exigindo a posse do Sr. Goulart.Criou-se uma situação de pânico em Santo Ângelo e em todo o estado. Os libertadores apoiaram sua posse, declarando que no dia seguinte à sua posse,iniciariam uma grande oposição ao seu governo. Essa foi a posição adotada pelos maragatos de Santo Ângelo, liderados por Dario Beltrão, Alfredo Pereira dos Santos, Siegfried Ritter, Augusto Jaeger, Sinval Medeiros de Farias e seu irão João, e, outros. Iríamos até as maiores conseqüências em defesa de seu direito de posse, e, depois, lhe faríamos oposição até o final de seu governo.
O Sr. Leonel Brizola, no Palácio Piratini fez sucessivos pronunciamentos à população do Estado e do Brasil exigindo a posse do Sr. Goulart na Presidência da Republica. Falava quase dia e noite, formando a Rede de Emissoras da Legalidade. Criaram o Clube “OS LEGALISTAS” aqui em Santo Ângelo/RS em apoio ao movimento. Começou a faltar gasolina na cidade, a qual foi racionada. O comandante do Batalhão Ferroviário foi pessoalmente nos oferecer gasolina para o funcionamento dos veículos da Indamil, da qual éramos um dos diretores. Os proprietários dos carros requisitados,para não entregarem seus veículos para os soldados se sujeitaram a ficar na direção dos mesmos, tanto no quartel, como nos vagões da Viação Férrea. Tínhamos a impressão de que partíamos para uma guerra civil. Era um clima de guerra o que aqui vivíamos.