O trio de ouro da Capital das Missões que tocava nas boates da luz vermelha

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Já era tarde da noite. Ao longe se escutava a música alta e a agitação característica da famosa “zona do meretrício” da Capital Missioneira. Este ponto da cidade fica na Rua 1º de Maio. Nesta via estava localizada uma das mais frequentadas casas noturnas, a Boate do Mário. A música alta no toca discos dava indícios da época em que o lugar viveu seu auge, a década de 1980, já que o refrão da música de Alan e Aladim dizia “E ao dormir, sozinha estiver em seus lençóis, abrace o travesseiro e pense em nós na impressão irá sentir o meu calor”, deixando bem claro o tempo em que se passa a história. As risadas, carícias e o dedo levantado pedindo ao garçom mais uma cerveja, era o “prato principal” da casa. Ao cessar o som do toca-discos entrava em cena um dos mais conhecidos grupos musicais que se apresentavam nas “zonas” dessa época, “Os Goela Seca”. O nome da banda vinha do fato em que os clientes podiam pedir músicas, porém era preciso pagar uma cerveja para os músicos. O trio era formado por Nelci Edson dos Santos, popular “Espião”, que tocava bateria, Cigano, que tocava guitarra, e Enio, que tocava contrabaixo. O repertório da banda incluía músicas das famosas duplas sertanejas daquele tempo, como, por exemplo, Milionário e José Rico, Alan e Aladim, além de João Mineiro e Marciano, e também Os Atuais. O cachê do trio era de CR$ 305, por apresentação. “Comecei a tocar no ano de 1982 por indicação de um amigo. A música mais solicitada era Coração de Pedra,  do Milionário e José Rico. Nós nos apresentávamos em diversas zonas, por noite chegamos a tocar em duas casas consecutivas. A gente tirava o dinheiro, além de conhecer muitas pessoas. Eu sempre fui um homem da noite, gostava da agitação, era um tempo em que nada era ruim, toda noite era uma festa. Meu lugar era na Boate do Mário, mas também me apresentava nas boates da São Carlos. Muitos fazendeiros e homens de posses visitavam estes lugares, e havia alguns que fechavam a casa para terem exclusividade durante toda a noite”, conta o baterista de “Os Goela Seca”, Nelci Edson Silva. Às vezes, a noite terminava de forma fatídica, principalmente de madrugada em que a bebida agia com mais força sobre os clientes e até mesmo sobre as mulheres da casa, que entravam em atrito na busca ou manutenção de seus clientes. Outro motivo constante de brigas era o assedio sobre moças já acompanhadas. Essas mulheres eram oriundas de outros municípios e até mesmo de distritos próximos, que vinham conhecer a noite e acabavam ficando. Com o passar do tempo, as coisas mudaram, na década de 1990 as tradicionais zonas foram perdendo espaço. O trio “Os Goela Seca” acompanhou o declínio dessas casas noturnas. Da banda restou apenas “Espião”, que hoje, com 58 anos de idade, ainda mantém viva as lembranças daqueles tempos. “Perdi muitos amigos daquela época. A vida boêmia é boa, mas termina rápido com as pessoas. Hoje ainda toco, inclusive estou formando um novo grupo para me apresentar em bailes. Só não quero tocar de bar em bar, minha saúde já está frágil para isso, afirma Nelci.

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