Uma demonstração de amor ao trabalho

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No século passado, os profissionais amoladores transitavam pelas ruas em seu realejo típico e oferecendo os seus serviços para afiar tesouras, facas, serrotes e até mesmo afinar guarda-chuvas. Hoje são verdadeiras raridades, pois se trata de uma profissão em vias de extinção. Embora seja algo raro, a profissão ainda é encontrada em algumas cidades por verdadeiros apaixonados por esta minuciosa técnica. Na zona norte de Santo Ângelo, encontramos o neto de italianos Adilo Dotto, um dos raros afiadores na atividade pela Capital das Missões. Nos fundos de sua residência, numa organizada oficina, este humilde trabalhador, de imensa simpatia e de bom coração, trabalha, diariamente, aos 76 anos de idade, atendendo os seus clientes nos três turnos do dia. Na oficina caseira de Adilo Dotto, ele afia serrotes, facas, navalhas de plainas, desempenadeira, serra-fitas, serra de vídea, soldas de serra, guilhotinas de gráficas, guilhotinas de açougues, serra circular, máquina de cortar grama, entre outras ferramentas de marcenaria, açougue e de serviço de carpinteiro. “Eu me aposentei como marceneiro. Foi uma profissão que por muito tempo trabalhei nos municípios de Santo Ângelo e Giruá. Mais tarde, comecei a trabalhar na Fábrica de Carroceria Siguinato e mais tarde na Fábrica de Máquinas Agrícolas Campeã, onde permaneci durante 27 anos e meio, fazendo serviços de carroceria, carretinhas, circulares e moedores de cana”, conta. Casado com Erondina Marques Dotto, pai de duas filhas, avô de seis netos e de quatro bisnetos, Adílio Dotto nasceu em Cachoeira do Sul/RS e somente com nove anos de idade veio a residir na região noroeste do Rio Grande do Sul. “Eu tinha nove anos quando fui residir em Giruá/RS, na zona rural, no Rincão Nossa Senhora Aparecida. Hoje, pertence ao município de Giruá, mas na época esta localidade era de Santo Ângelo. Meu pai, Vergílio Mariano Dotto, e o meu avô, o italiano Carlos Dotto, já trabalhavam com madeira. O meu avô fazia muito as tradicionais pipas. Mais tarde, o meu pai teve uma olaria. Mas eu já os observava quando eles criavam os moedores de cana feitos de madeira”, lembra. Em meados de 1966, Adilo passou a trabalhar mais com fundição quando se tornou funcionário da Fábrica de Máquinas Agrícolas Campeã. “Na Campeã quebrei ferro para a fundição. Naquela época fazíamos os modelos das peças em madeira antes de moldá-las na massa e na areia. Fui aprendendo aos poucos na vida. Antes da marcenaria, eu fui agricultor. Plantei fumo, soja, trigo e fiz até cachaça. Depois, na Campeã, quem me ensinou a fazer o que faço até hoje foi um colega de empresa, o alemão Willy Gistolf”, revela Dotto. Em alguns dias da semana, o serviço de Adilo vai até o início da noite. Costuma começar cedo na lida. Nos sábados também trabalha. E, assim, desde que se aposentou, há quase 16 anos, tem seguido com muito trabalho, diversos clientes e confessa amar a sua profissão. “Não sei até quando vou poder trabalhar, mas enquanto eu tiver saúde e condições vou continuar. Enquanto Deus me der força, irei continuar”, revela.

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